
E pequenos pedaços coloridos de papel caíam do céu. Dançando entre a luz e a contraluz a faziam abrir e fechar os olhos rapidamente, se assustando com o brilho do sol mas nunca desistindo da incessante busca por todo aquele colorido.
São Pedro está conosco! Pensou, as vezes manda chuva, as vezes os confetes!
Seu rosto dourado pelo sol de toda aquela manhã brilhava também como ouro do plástico da coroa que vestia. Além de tanta purpurina, não desistia nunca de mante-lo inclinado aos céus em busca dos confetes voadores.
A musica, antes tão rápida e animada, ao meio dia parecia ralentar. Toda a cerveja das latinhas que passaram por suas luvas brancas, uma atrás da outra durante toda a manhã, a tornaram lenta. E muito sorridente. Sempre.
Os anjos, os diabos, reis e rainhas, as odaliscas, melindrosas, os malandros e heróis, todos eles, quase em uníssono, pulavam, cantavam e sorriam. E alguns também, beijavam.
Enquanto isso, ela ainda olhava para o céu distraída. Avistava, bem pequeno, o pedacinho de papel que agora encontrara o beija-flor que parecia ter vindo participar também da festa. E como se esbaldou.
E dez anos se passaram.
Feliciana dormiu?
Lá estava ela. E o olho ainda brilhava. E no meio do bloco, vestida de rainha, olhava tudo atentamente.
Sob a luva preta ainda a latinha. Na mão esquerda, mais um saco de confete. E a multidão, ainda em uníssono, desaguava no largo antigo onde a folia, mais horas menos horas, teria certamente seu fim.
Ainda beijavam, pulavam e cantavam. Alguns também sorriam.
E são Pedro mandou chuva.
Feliciana ainda inclinava o rosto para cima sorrindo e dessa vez brilhava molhada e borrava de preto.
Tirou a peruca vermelho-cereja, tirou dois reais do bolso molhado, comprou na esquina sua última latinha e caminhou devagar sob a chuva.
Era quarta-feira de cinzas e Feliciana pensava: acabou meu carnaval.