segunda-feira, 30 de junho de 2008

L- A -R




*colagem e bagunça: sabrina, aninha, mariana
[de nós para nova casa, e pro roommates; ]

*foto: mariana



olhar as paredes em volta
o cheiro forte da tinta nova
o brilho grande da casa minha

a porta beijo e sorrio
da escada olhamos pro alto
que lindo!

cada janela brilhante
os muros com sabor de futuro
os quadrados de cada espaço vazio
dão ASAS a imaginação

a lembrança do futuro que Vi-veremos
o suspiro da história que já começou
o medo do presente que era quase futuro
[e prestes a passado]

o sorriso novo
a primeira sensação que nunca se conheceu
mas que lhe parece tão tão familiar

sim, claro, fa-mi-li-ar

afinal, é SUA, SÓ Sua
TODA sua
e de todos os outros

dorme lindo lar
eu chego!



*

sexta-feira, 27 de junho de 2008

a criação de senhorita feliciana




pra aninha



E porque ela inventava de querer falar sobre ela mesma? Ela sabia que arte não era isso, diário, ah... assim é muito fácil, corre, voa, vai inventar uma história, menina! Mas nada disso, até suas unhas descascando vermelho pitanga lhe pareciam ser merecedoras de mais um punhado de palavras.

Todo bom escritor é antes, invariavelmente, um excelente leitor, eu sabia que era isso que ela pensava. Mas, mesmo assim, nas longas viagens de ônibus indo e vindo por aí ela não conseguia se concentrar em nada que não fossem seus próprios devaneios sobre aqueles milhares de estímulos pulsantes à sua volta.

Aliás, andar de ônibus sempre fora para ela a maior das aventuras, antes já tivesse sido inventado um "escritor de pensamentos", ela pensava, ah... seria escritora de best-sellers desde criancinha! Era fixada na mania de achar que as coisas que imaginava, que a maneira como reparava o olhar entediado do senhor no banco ao lado ao escutar seu celular tocar eram únicos e preciosos. E precisava escrever sobre aquilo!

Até o cheiro lhe parecia ser um grande tema de uma grande obra. Achava fascinante reparar que o cheiro característico do rapaz sentado ao seu lado lhe poderia fazer apaixonar-se, ou então, ficava encantada ao contar como deixara de amar pessoas qaundo seus cheiros se tornaram enjoativos.

Na noite passada ela despertou no semi-sonho, dormia e acordava, indo daquele estagio dormente para a lucidez translúcida do rolar na cama. E nessa hora, eu vi de longe, ao invés de se chatear com o sono interrompido, como seria esperado, ela sorriu. Na noite passada ela descobriu que o silêncio do quarto escuro na madrugada, enquanto estava ainda com resquícios de lucidez e os olhos entre-abertos, era mais, muito mais, silencioso do que o silêncio do espaço delirante em que mergulhava quando começava a dormir. No mundo dos sonhos o silêncio é cheio, denso, repleto de sons!

Ela sorriu mais ainda e pensou nessa hora, segundos antes de dormir, isso vai dar uma boa história!

Tentei de novo, dessa vez dentro do seu sonho, dizer para ela, vai inventar uma história, menina! Era tarde demais, ela já estava sonhando...

segunda-feira, 16 de junho de 2008

pra Nara

É madrugada. O sono foi substituído pela dor
que cobre todo o peito e a barriga.
Acorda num susto com o choro que
vai jorrando goela a fora.

Cadê o humor?! Foi rir de outro.

Lamento brega, mágoa autocomiserável,
e até Raiva, tomam conta de tudo.
A chuva ensurdesse a Nara que canta baixinho na TV.





Tudo vira barulho, daqueles que dão dor de cabeça
e vontade quebrar alguma(s) coisinha(s) em volta.

"A chuva precisa parar para escutar a cabeça."

O ruído fica muito alto e tudo fica cego e mudo,
sem ter como ver o grito, ouvir o silêncio e:
Aaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!


shhhhhhhhhhhh, silêncio.

Tem alguém que dorme na cabeça ao lado.

sábado, 7 de junho de 2008

aquele homem




Já é hora de escrever sobre ele. ele andava mas parecia que flutuava. ele era tão bonito, ainda deve ser, só que já não sei. falava com quê de quem não fala, porque suspira e ao mesmo tempo, acho que lá no fundo, ele chora, mas ri também. e quando ele ri, ou melhor, quando ele ria, era diferente, era estranho, era meio nervoso e meio moleque, mas eu acho que ria o mundo todo junto. pelo menos ria meu corpo todinho ao mesmo tempo. não era sempre e, melhor, não é pra qualquer um. só os merecedores é que tem o ar de sua graça risada. e isso que o fazia mais belo e tão difiícil de esquecer. ele era sóbrio e quando era bêbado era tão flutuante, mas mesmo assim, sóbrio de mim. era tudo o que eu queria ser e nunca seria, era tudo o que eu sempre quereria ao meu lado até o resto de nossas vidas. era o oposto de mim, mas ao mesmo tempo, era tão eu e meu, mas nunca foi meu de verdade, e por isso, nunca o perdi. nunca o tive e nunca vou deixar de ser sua. o choro no fundo, eu sempre quis abraçar, mas era tão arredio que meu abraço nunca foi suficiente. e seu abraço, também nunca esteve tão presente. olhava o céu e as coisas parecido como eu olhava e me ensinou ainda tantos outras palavras bonitas pra ver. e eu também, eu queria pensar assim, acho que minha risada, tão alta e escandalosa, e meu sorriso tão largo na cara, apesar de muitas vezes embaraçosos, acho que eles também disseram alguma coisa nova. alguma coisa bela, eu creio, ou finjo acreditar. aquele homem já não está mais aqui, foi embora, ou nunca esteve. mas deixou em mim, um pedaço enterrado no corpo, daqueles que nem com cirurgia vai sair. tenho medo de ser grande demais essa farpa, esse pedaço entalado. mas vai, isso eu não tenho duvida, fazer parte de mim até que eu já não perceba a diferença e até que já não se faça sentir tão forte. e vai ser bonito, uma nova parte de mim, delicada e tão diferente... quem sabe não incorpora até a genética e passa assim para as novas gerações, em nome dos filhos que nunca tivemos. aquele homem em mim e em nós. que foi flutuando e ficou entalado. não arranco e não suplico. choramos quieto o choro merecido e sorrimos sóbrios o que sobrou de nossa graça.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

sodade meu bem, sodade




Acabara de escorrer o café fresco e foi lavar o filtro deixando pingar o restinho na pia. Ela olhava aquele líquido marrom se espalhando pelo mármore branco, se misturando com a água que caia lenta da torneira, e não conseguia parar de achar, mesmo sabendo da verdade, que era sangue que escorria ali. Estamos a salvos, todos os seres, pois a saudade, e isso parece sabedoria divina, nunca nos traz a intensidade real da presença diante do objeto amado e distante. caso contrário, a saudade, certamente, estaria fadada a ser nada menos do que a pior das doenças, a mais fatal. Largou o filtro de café num susto terminado esse pensamento, respirou fundo e voltou à sua sala onde escreveria emails e projetos o dia todo e se esqueceria de sua saudade que ia continuar sangrando sem que ela se desse conta.