sábado, 7 de junho de 2008

aquele homem




Já é hora de escrever sobre ele. ele andava mas parecia que flutuava. ele era tão bonito, ainda deve ser, só que já não sei. falava com quê de quem não fala, porque suspira e ao mesmo tempo, acho que lá no fundo, ele chora, mas ri também. e quando ele ri, ou melhor, quando ele ria, era diferente, era estranho, era meio nervoso e meio moleque, mas eu acho que ria o mundo todo junto. pelo menos ria meu corpo todinho ao mesmo tempo. não era sempre e, melhor, não é pra qualquer um. só os merecedores é que tem o ar de sua graça risada. e isso que o fazia mais belo e tão difiícil de esquecer. ele era sóbrio e quando era bêbado era tão flutuante, mas mesmo assim, sóbrio de mim. era tudo o que eu queria ser e nunca seria, era tudo o que eu sempre quereria ao meu lado até o resto de nossas vidas. era o oposto de mim, mas ao mesmo tempo, era tão eu e meu, mas nunca foi meu de verdade, e por isso, nunca o perdi. nunca o tive e nunca vou deixar de ser sua. o choro no fundo, eu sempre quis abraçar, mas era tão arredio que meu abraço nunca foi suficiente. e seu abraço, também nunca esteve tão presente. olhava o céu e as coisas parecido como eu olhava e me ensinou ainda tantos outras palavras bonitas pra ver. e eu também, eu queria pensar assim, acho que minha risada, tão alta e escandalosa, e meu sorriso tão largo na cara, apesar de muitas vezes embaraçosos, acho que eles também disseram alguma coisa nova. alguma coisa bela, eu creio, ou finjo acreditar. aquele homem já não está mais aqui, foi embora, ou nunca esteve. mas deixou em mim, um pedaço enterrado no corpo, daqueles que nem com cirurgia vai sair. tenho medo de ser grande demais essa farpa, esse pedaço entalado. mas vai, isso eu não tenho duvida, fazer parte de mim até que eu já não perceba a diferença e até que já não se faça sentir tão forte. e vai ser bonito, uma nova parte de mim, delicada e tão diferente... quem sabe não incorpora até a genética e passa assim para as novas gerações, em nome dos filhos que nunca tivemos. aquele homem em mim e em nós. que foi flutuando e ficou entalado. não arranco e não suplico. choramos quieto o choro merecido e sorrimos sóbrios o que sobrou de nossa graça.

8 comentários:

Barbara Kahane disse...

mari, às vezes a beleza é triste e às vezes a tristeza é bela... muitas vezes, ao percebemos essa condição, não conseguimos sair dos lugares comuns como eu nessa frase de introdução a esse comentário... mas esse seu texto me fez sentir essa sensação de triste e belo que às vezes nos é tão comum de uma maneira diferente... incrível como o quê às vezes precisamos é a formulação de um sentimento comum com frases únicas... e da maneira como você expôs me senti triste, mas revigorada... uma tristeza quase alegre, uma tristeza quase bela.

Eduardo Politzer disse...

"choramos quieto o choro merecido e sorrimos sóbrios o que sobrou de nossa graça."

bela frase senhorita, voltarei sempre.

Luisa Coser disse...

miolo do pão. às vezes é bom, às vezes a casca é muito dura e esfarelante e o miolo é mole... mas a lembrança do miolo do pão é sempre bom! ahahaha. a lembrança se transforma sempre em miolo e farelo... engraçado isso. beijo Lu

gduvivier disse...

pára, mari, não sou nada disso.

brecha coletivo disse...

bacana você! favoritei. beijos

Wally Jacobsen disse...

Tão lindo.

sobre nós disse...

senhorita feliciana,

do parapeito daquele abismo de pupilas profundas miramos a mais fina poeira de estrelas. o amor... ah, o amor. seu, meu, nosso, de ninguém! beijo grande, luiza

Unknown disse...

Magali, adorei o seu blog!
Belas poesias, menina!
Me inspirou.
Clarice