segunda-feira, 2 de junho de 2014

nasa

Tenho que confessar. Sou nada. Sou péssima. Não sou tão grata a nada. Não sou tão inteligente. Não tenho nada de interessante pra falar. Não sei se estou lendo nada que valha a recomendação pública. Não crio arte a toda hora. Meu nome, por mais que eu procure todo dia, não sai mais na internet. Meus projetos não interessam a ninguém. Nem tão pouco minhas palavras óbvias, velhas, enferrujadas no cantinho da prateleira de mentira que um dia eu construí junto com os fantasmas que me habitam no tempo em que eu ainda vivia no mundo da fantasia. Já não vivo mais. Quero palavras concretas, no presente. A morte talvez já não me assole assim, não sei se ainda sou de lágrimas a toda hora, não tenho mais saudade da infância que até outro dia me cobria o corpo. Não acredito mais nas cores, não quero mais voar, não acredito em amor de brigadeiro com sorvete e castanha e fruta vermelha pra dar a textura macia e azedinha com a crocante e muito doce. Ainda quero ver novela pra esquecer de tantos nãos, continuo plantando migalhinha e não recebendo nem um pão, tostão, aperto de mão, sorrisão, admiração. Não. Sou eu só aqui sozinha num canto esquecido olhando em baixo do assoalho que não existe na minha casa buscando um ratoeira de mentira ou uma moeda da época do meu avô. Pra dormir sozinha, com frio, sonhar com nada ou ser comida pelo nada no pesadelo dessa noite, acordar sozinha com frio, com dor nas costas no maxilar, com vontade de mijar, não tirar o pijama nunca, não tomar café, não sorrir, andar igual alma penada pela casa, não achar graça de nada e dormir sozinha de novo procurando ratoeira de mentira ou moeda de ouro do meu avô debaixo do travesseiro. Que, esse sim, é da NASA e me faz bem para o pescoço.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

pfcamacho

foi assim: eu fazia francês na casa de um amigo e volta e meia entrava pela porta um ser gigante, magrelo, olhos gigantes verdes, com tiara na cabeça prendendo o cabelo cacheado dourado, e ia para o quarto com sua devida cia. eu falava oi. depois, um dia, ou melhor, noite, no gohan jantando com amigos, comentei que buscava um terceiro elemento para dividir minha a nova futura casa com o ives. ele estava na cabeceira, eu mal o conhecia e ele disse sim e veio ficar conosco. eles, e no caso eram dois gigantes, chegaram antes, eu, no caso alguém muito probelmática com mudanças, cheguei depois. fizemos nossos aniversários, fizemos festas de fim de ano, fizemos sextas animadas, tivemos milhares de amigos por lá sempre. mudamos de amores, de parceiros (nem todos), o cabelo cresceu, cortou, mudou, barbas caíram, voltaram, móveis chegaram e foram, clipes foram rodados, filmes foram feitos bem ali, filmados, montados, choramos nos quartos ao lado, sentimos raiva em silencio, com barulho, rimos pra caralhoi na sala. aprendi um mundo inteiro de filmes, músicas, series de tv, comédia, porcaria, comida natural, bolo de chocolate sem gosto. tiramos mil fotos e tentamos fazer um filme a 3 da nossa pereirinha 302. casamos. mudamos, saímos. aí depois eram outras casas, aí depois tinha o braga e agora era santa teresa, quando vi ele estava de novo no quarto ao lado. e tinha um outro terceiro elemento, a julia. aí tinha varanda, plantinha, mais tv, mais filme, aí ele se apaixonou finalmente pelo carnaval e ciramos todos toga, edredon compartilhado, livros. aí casamos. aí ele já tem 35 e é gente grande. eu também, é o que dizem. isso não é um manual de como fazer um irmão em poucos anos. porque com paulo camacho manual não existe. na verdade há quem diga que ele próprio, o paulo, não exista. que é uma luz, dessas bonitas que só ele sabe inventar, que transita alto e largo pelo rio de janeiro, desaparece mais rápido e mais tempo do que ninguém, e aparece como luz mesmo quando você mais precisa, e entra lá dentro do seu coração e faz tudo ficar bem quentinho. dizem que ele é feito de coracão da cabeça aos pés. acho que só pode ser isso. ufa. ele existe pra mim.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

domingo, 6 de maio de 2012

elas

reler blog, é igual ver fita de vhs antiga, reler agenda de adolescente, cardeninhos de vida toda. hoje joão ubaldo me contou que quando a gente começa escrever o texto, acha que vai falar uma coisa, mas só descobre do que vai mesmo falar depois que já escreveu. então já sei que tudo que escrevo não é nada o que vai ser. bom. agora, relendo minhas vhs aqui em baixo, lembrei que não posso parar. as imagens se amutuam lá fora, no mundo das imagens e sons. mas as palavras, continuam presas, na garganta não, é mais em cima, presas aqui na testa, que dá dor de cabeça. elas precisam cachoeira. elas imprecisam. elas, as palavras. e quem sou eu pra falar outra coisa?

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

2 de setembro de 2009

2 de setembro de 2011.
facebook me lembra que ha exatos 2 anos atrás escrevi isso.

de vestido-verão, entra no ônibus estabanada com um abacaxi a tira colo. num primeiro solavanco, deixa cair e rolar a fruta por todo o ônibus. faz rir o trocador, ri de volta um quê sem graça, salta do ônibus apressada e repara na bicleta sem suspensão da menina que passava à direita. chega na análise atrasada, sai de lá amarrotada e bate de volta na porta 5 min. depois lembrando que esqueceu o seu abacaxi.

o abacaxi ainda rola por aí.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Novela




E sente dor de amor
Porque não aprendeu a amar de outro jeito
E quer dizer eu te amo
Pro Arnaldo Antunes
Porque ele toca a dor do amor
Como ninguém sabe fazer
E tem vontade de chorar
Porque acha que chorando pode esvaziar
Tem vontade de chorar
Porque sem choro não tem nem o amor,
Nem a falta dele
Porque sem o choro
Nem a dor sabe ser dor direito
Porque engasga antes
E quer ver novela
Pra lembrar de sentir
E pra dor voltar
E desengasgar a manteiga
E chora, pra lembrar
Que tudo começou
Bem na hora
Que voltou a amar

e fez uma musica
Pra ela mesma

domingo, 19 de junho de 2011

vamos chamar



eu janto abacaxi com iogurte banana granola mel e queijo minas. eu deserto chazinho da arabia. eu desperto no mar e vento. e morro chamando brisa pra esquentar meu cobertor.

eu. baixo-imune, drogada e desprostituida.

meu sonho atual? um dia inteiro em casa, moletom.