quarta-feira, 16 de julho de 2008

de novo

estavam todos ali
ele, ela, ele e nós
olhávamos uns aos outros
ninguém sabia

ele em pé tão sério,
só soubemos depois,
remaria mar a fora
esfaquiaríamos lula a dentro
até chegar à pena
e usar a crase certa

do outro lado de lá
araçatiba tava dando
antes da tamburitaca
lulas já pulavam no cesto
e dormiam em paz
[bem ao lado das escovas de dente-rosa]

estavam todos ali
ele e ela, nós e eles
olhavam uns aos outros
barriga cheia
farofa dentro
e omar lá fora


noite de quentões e canções


dancaríamos nós juntinhos
rememorando um passado
que de quase remoto
foi parar na pontinha do presente
cambaleado de futuro


suamos o mesmo suor
o pé pisou no dele
a lula mexeu saltitante na barriga
e escada a cima,
o quentinho macio brilhou no leito


noite enubriada



fez ela sonhar e chorar novamente
ele viu.


segunda-feira, 14 de julho de 2008

monólogo



você sempre me disse e me avisou pra ficar longe, eu não tinha a menor chance. eu te disse que não queria chance, eu te contei que viver o presente apenas era tão bom... (fingi que sabia disso)

foi tão bom...

não, não foi nada bom, foi péssimo.

não, foi bom enquanto não durou nada

foi bom as vezes

muito menos do que muito

e eu, será que eu te dei chance? e eu, será que eu quis uma? você sempre sentiu culpa, eu senti sempre dor do abandono no parto. eu pedi muitas desculpas você não teve coragem, era admtir tudo

eu sempre tomo a parte pelo grande todo... você também.

o drama queen com a drama king

vamos tirar a roupa e nadar pelados?






...






....

terça-feira, 8 de julho de 2008

4 e trinta



Andando pela futura ex casa ela chora. Anda com seu pijama branco de bolinhas azuis e chora. e chora alto, com caretas e lágrimas, como uma criança que acorda no meio da noite na casa escura não sabendo a qual lado ir para encontrar o colo quentinho dos pais.

Mas para ela não há o colo quentinho. E não há ninguém mesmo. A casa vazia está menos escura do que ela gostaria e por isso apaga as luzes brancas da cozinha e do banheiro que dormem acordadas. Quem sabe assim ela também fecha os olhos e consegue achar o único lugar quente entre seus cobertores e dormir até amanhã.

Na cozinha, agora escura - mas nem tanto - iluminada pela cidade que nunca dorme, ela apela mais uma vez para o chazinho quentinho e reconfortante. Pega panela, coloca água, fogo ligado e o choro não para. Abre a geladeira, pega creamchesse, pão na torradeira e o choro alto continua.

As vezes, melhor, muitas vezes, dormir parece muito mais assustador do que o medo de se entregar ao sono traiçoeiro e às verdades que ele traz.

Mas também não aguenta mais escrever sobre sono, medo, choro - in-so-no-mia.

Mais uma torrada, choro agora contido a fungadas fortes e o olho no espelho do microondas - se lembra do seu filme com as amigas e sozinha ela espera chegar. Sabe-se lá o que.

E chega. 4:30 da manhã entra pela porta do fundo o irmão, o roommate da vida toda que está prestes a ser um ex vizinho de quarto e que chega de um trabalho cansado abrindo a geladeira e perguntando porque ela está ali a essa hora e escrevendo o que? um texto. que texto? tipo, aleatório? qualquer coisa? é, um texto, sei lá, um texto. ãh, boa noite, vou dormir. boa noite, durma bem.

Torrada acabou. Chá também. Lembra-se de uma amiga da amiga que lhe disse uma vez, numa festa há muito tempo atrás, lá pelo mesmo horário de 5 da manhã, que as vezes não conseguimos acordar porque ficamos muito tempo sem comer ao longo da noite e, fracos, fica difícil sair da cama. Será que então é difícil entrar na cama com a barriga vazia? A dela agora esta forrada.

Volta ao colo dos cobertores com seu pijama de bolinhas acreditando que depois de duas torradas seu estômago cansado vai cair no sono e, quem sabe, o resto do corpo acompanha?

Por via das dúvidas, encher um copo de agua, e levar junto o caderno e a caneta - ela pensa enquanto anda pelo corredor.