terça-feira, 8 de julho de 2008

4 e trinta



Andando pela futura ex casa ela chora. Anda com seu pijama branco de bolinhas azuis e chora. e chora alto, com caretas e lágrimas, como uma criança que acorda no meio da noite na casa escura não sabendo a qual lado ir para encontrar o colo quentinho dos pais.

Mas para ela não há o colo quentinho. E não há ninguém mesmo. A casa vazia está menos escura do que ela gostaria e por isso apaga as luzes brancas da cozinha e do banheiro que dormem acordadas. Quem sabe assim ela também fecha os olhos e consegue achar o único lugar quente entre seus cobertores e dormir até amanhã.

Na cozinha, agora escura - mas nem tanto - iluminada pela cidade que nunca dorme, ela apela mais uma vez para o chazinho quentinho e reconfortante. Pega panela, coloca água, fogo ligado e o choro não para. Abre a geladeira, pega creamchesse, pão na torradeira e o choro alto continua.

As vezes, melhor, muitas vezes, dormir parece muito mais assustador do que o medo de se entregar ao sono traiçoeiro e às verdades que ele traz.

Mas também não aguenta mais escrever sobre sono, medo, choro - in-so-no-mia.

Mais uma torrada, choro agora contido a fungadas fortes e o olho no espelho do microondas - se lembra do seu filme com as amigas e sozinha ela espera chegar. Sabe-se lá o que.

E chega. 4:30 da manhã entra pela porta do fundo o irmão, o roommate da vida toda que está prestes a ser um ex vizinho de quarto e que chega de um trabalho cansado abrindo a geladeira e perguntando porque ela está ali a essa hora e escrevendo o que? um texto. que texto? tipo, aleatório? qualquer coisa? é, um texto, sei lá, um texto. ãh, boa noite, vou dormir. boa noite, durma bem.

Torrada acabou. Chá também. Lembra-se de uma amiga da amiga que lhe disse uma vez, numa festa há muito tempo atrás, lá pelo mesmo horário de 5 da manhã, que as vezes não conseguimos acordar porque ficamos muito tempo sem comer ao longo da noite e, fracos, fica difícil sair da cama. Será que então é difícil entrar na cama com a barriga vazia? A dela agora esta forrada.

Volta ao colo dos cobertores com seu pijama de bolinhas acreditando que depois de duas torradas seu estômago cansado vai cair no sono e, quem sabe, o resto do corpo acompanha?

Por via das dúvidas, encher um copo de agua, e levar junto o caderno e a caneta - ela pensa enquanto anda pelo corredor.

2 comentários:

Eduardo Politzer disse...

um retrato fiel da famosa larica da madrugada versão chá com cream cheese. O que fazer quando o sono não vem é uma grande questão, comer é quase sempre a resposta mas isso não garante um sono tranquilo, dormir as vezes requer uma auto-avaliação que nem sempre estamos dispostos a fazer.

me identifiquei com esse texto, gostei. beijos

spike disse...

oi, nice photo, you look just the same!