domingo, 24 de agosto de 2008

Paradoxo da separação ou a reza pro santo casamenteiro


Eu queria casar com você.

Daqui a um tempo, passada a necessidade minha de solidão, passado o medo de saber a falta de saber como agir. Passado o tempo do crescimento e chegado o dia de ter atravessado a cerca e alcançado a grama verde onde vou caminhar com um vesido florido e o cabelo comprido encaracolado no vento. Nesse dia quero tua mão na minha, quero casar com você.
Quero o vestido curto da minha barriga crescendo com nosso filho dentro de mim. Sua mão tão bonita pousada na minha barriga enquanto você lê um livro em voz alta para nós três. Eu vou estar mais sorridente do que nunca e, você vai dizer, mais linda ainda.
Quando a barriga crescer você vai compor sua música mais bonita pro nosso filho e, no meu peito grande se preparando para o boca faminta recem descoberta, você vai colocar seus lábios carnudos e nós vamos fazer amor maior do que nunca, descobrindo, com aquele novo volume do meu corpo, posições e encontros, cada dia diferentes, das nossas peles e nossos pesos.
No dia que ele nascer, seu olho vai brilhar mais do que nunca e seu sorriso, nesse dia, finalmente, será inteiro, tão pleno e certo da felicidade. E eu vou olhar pra vocês, um nos braços do outro [e vice-versa], meus maiores amores, e vou chorar sorrindo, também segura da maior alegria [e silenciosa].
Depois que ele nascer você vai aprender a cuidar de alguém como nunca, vai ficar tão seguro de [perder] ganhar horas e horas ao lado dele, deixando de fazer qualquer outra coisa só pra vê-lo dormir.
Eu você e nosso filho. Você vai finalmente entender a beleza do seu lugar no mundo, vai sorrir tão frouxo e abraçar tão apertado. Eu vou ficar também séria e calma, abraçar macio e, as vezes, cantar bem baixinho pra vocês dois dormirem.

Eu quero casar com você.

[Eu não quero dizer]
Adeus.









*imagem do filme "Le bonheur", Varda - um dos favoritos


*imagem homenagem à paulinha

6 comentários:

Anônimo disse...

Se lembra qnd a gente assistiu aquele filme de uma cineasta francesa a uns anos atras? - o nome me escapa...Me lembrou dele - a vontade inventada (ou natural?) de um frame ensolarado e primaveral...sabendo que vai terminar mal..Ou a gente morre ou mata..dps te conto sobre isso
bjos

diana sandes disse...

lindo aqui também.

Sabrina Nóbrega disse...

ô meu santo antônio, já lhe entreguei o chumaço de cabelo de meu amado, amarrei um pedaço daquela blusa que ele esqueceu aqui em casa no travesseiro, como o senhor mandou. vou sempre no banquinho onde nos conhecemos e lhe acendo uma vela lá!

Não está ouvindo minhas preces?


; )

bonita primavera lírica....

Anônimo disse...

:))

Colageno de Dona–Turu disse...

Lindo!!!

lembrei do filminho q vc fez do menino compenetrado no show do Siba, maravilhado, e vc maravilhada tb!! com encantamento pelas crianças...

gosto muito do jeito que escreve, me faz viver a situação...

Maya disse...

lindo...lindo...lindo...meus olhos cheios d'água.