domingo, 31 de agosto de 2008



Quando feliciana chegou em casa naquela noite nada mais parecia o mesmo. E nada mesmo era o que antes havia sido. Nem noite era. Madrugada sem hora de precisão, cor furta no céu e desfocado na cama, apesar de ser novinha em espuma, pelo menos era confortável. Colchão virgem, pronto a amaciar-se ao primeiro que lhe tocasse, nem o leito já era o mesmo. Tudo estava outro.

O copo agora listrado comportava apenas água transparente. As habituais fumaças cinzas passaram a fazer no ar funis e olhos de tornados que tinham um nome próprio de ser mas agora ela havia esquecido.

Feliciana olhava tudo em semitom, semicilio, semiretícula toda aberta. Mas o todo agora era outro e se fechava por inteiro.

Feliciana andou pra um lado e outro e deu na varanda, tocando as árvores do outro lado da rua de concreto reparou no que havia em cima e quando foi se dar conta, Feliciana estava mesmo de fato avistando outro lado, o lado de dentro. Da pontinha da cabeça até a raiz do pescoço tudo aquilo ela via. Era mesmo um globo o tal ocular, e girou e girou parando como a sorte de bingo no lado avesso da roleta.

Nunca tinha se deparado com aquilo antes, pensou calmamente e intrigada a senhorita abismada. Andou de volta ao inicio desabitado e foi parar no porão, que nunca antes existira, daquele apartamento um tanto velho desconhecido.

8 comentários:

Wally Jacobsen disse...

Oi, só não entendi esse tal de semiretículo - não estudei cinema-, mas é muito bom. Abraço.

diana sandes disse...

"Leve, leve, muito leve,
Um vento muito leve passa,
E vai-se, sempre muito leve."

Marcela Bertoletti disse...

Adorei seu blog Mari, que texto lindo!
Saudades tuas

Beijos

Alice Sant'Anna disse...

muito obrigada, senhorita feliciana. lindo o "tudo estava outro". um beijo!

Wally Jacobsen disse...

As 5:45 da manhã preciso ir para o caixão, senão viro abóbora. Obrigado pela visita matinal.

Wally Jacobsen disse...

Este seu texto:"Paradoxo da separação...", poderia muito bem - se me permite classifica-lo como um conto - ser enviado para uma revista literária virtual lá do Paraná,ao qual sou colaborador eventual, chamada: Maria Joaquina.
Os caras que editam essa revista são bem bacanas no que diz respeito a isenção e a ética, ou seja, não tem essa de só publicar os amiguinhos da panela.
Bom, se te interessar, o prazo para envio é 30 de set. Eu mesmo vou mandar um continho meu que tá saindo do pulmão.

Wally Jacobsen disse...

Ah esqueci: www.mariajoaquina.org

Eduardo Politzer disse...

isso me fez lembrar de um dia voltando pra casa fiquei algum tempo no jardim como se estivesse entrando num lugar novo, foi bem estranho...

tb nao entendi nada do semitom, semicilio, semiretícula toda aberta. mas não compromete,

na espera pelo proximo, beijo