quarta-feira, 9 de junho de 2010

a distancia e o caminho


imagem serie variações do preto




1

a distancia e o caminho

tem roxo, tem preto.
tem uma camada que conserva um pouco do calor. mas não esquenta.
e tem também ar frio que escorre entre cada buraquinho.

como é que foi que de coisa boa virou insossa?
como é mesmo o caminho da distancia?
mas se é caminho já é distancia?
mas se é distancia não são sempre dois caminhos?
acho que plural agora serve.
acho que sempre serviu.
acho que ninguém nunca pode prever.
mas tem alguma coisa perversamente repetida nessa historia.
não a minha, sua historia.
sua não, terceira pessoa.
claro, terceira, segunda não, no caminho veio a distancia
esqueceu?
eu sempre esqueço.

eu tenho a melhor memória do mundo: sempre esquece o que importa.

um viva às desimportancias.

me ajuda a lembrar, ao que é mesmo que se deve brindar?
se festeja o amor? é isso? mas... é isso o que?
rir-se da alegria, ah não, redundou de novo (ih, de novo).

de novo:
rir-se do ópio nosso de cada dia.
acho que disso choramos.

mas proponho: um brinde, viva o ópio do coletivo individualista.

ah, de novo:
tem roxo, tem preto.
e tem no amarelo esse cheiro que de manhã rasga, mas é o perfume noturno dos não-amantes.

saúdo então os levedos que fizeram desde sempre a fermentação alcoólica que não foi nunca láctea, graças a deus.

pausa para pouso da mosca.
o que ela traz na pata, pé, antena?

o que que ele te trouxe?

tem mais um gole, desce e abraça frio o calorzinho que já ia te acomodando.
a dama da noite precisa trabalhar para que eu me lembre finalmente do que é motivo de brinde..

lembrei que sempre soube que os sorrisos e serenatas eram anti-transpirantes., eles eram relaxantes musculares e faziam dormir como nunca. só lembrei agora,.
Lembrei que essas fagulhas engessaram mãos no teclado, engessaram a memória esquecida, esse olho que nunca brilhou, mas é asssim que foi pintado, ele, o olho né, fechou muito, ele focou demais e sem o foco doce, meu amigo, não a brinde que sustente.


de novo:
tem preto, só vejo isso. e o branco.
tinha uma moça sentada e bela.
tinha uma moça que gostava de ser amarela.
brincava de brincar que fazia sentido.
e fingia que juntava de brincar com as palavras.
ela gostava de andar porque o vento fazia frio.
e gostava de parar porque o sol fazia luz quente.

no sinal, encruzilhou de branco listrado, e lembrou de olhar pro céu.
mas quando viu a nuvem tão longe, tão branca. quando viu a nuvem tão serena e de contorno azul.
lembrou que flutuar no fundo do ar que nunca foi vermelho sempre foi o seu sorriso.


nada de novo:
ela não entende alemão.
muito menos porque lembrou de pensar isso.
acho que queria pensar em francês.
ok. ela entende muito pouca coisa.
ela sabe que do caminho ela não sai.
ela sabe que distancia as vezes dói.
mas ela lembrou, apesar de memória desmemoriada. que tem que descruzilhar o caminho com distancia, meu deus, foi bem nesse sinal que ela parou e viu o ceu azul e nuvem rindo.


novo fim:
dos idos de sua memória do futuro, sorriu com a distancia.
torrou com sol amarelo, esqueceu do que era cor de preto e
mais um gole por favor.



http://www.youtube.com/watch?v=eo3Hkqw_KRM



CARTOGRAFIA DE LACUNAS 1

5 comentários:

omnia in uno disse...

muito, muito bom!

Clara Cavour disse...

de novo, esquecer. e de novo.
[pra sorrir a distância]

Colageno de Dona–Turu disse...

LINDO,

te ouvi contando...

Sabrina Nóbrega disse...

bravooo!!!!
inventei memória do nosso futuro passeio juntas e já tenho uma foto moldurada da gente passeando no village em frente a sorveteria.
saudade é distância ?

Mariana Kaufman disse...

então eu tomei ontem o sorvete com você, que delicia de passeio...
saudade é muito perto, perto até demais, por isso que dói...